domingo, 30 de novembro de 2014

Difícil manter os olhos abertos



Um homem a convidara para sair. Insistentemente. Isso fez com que ela se sentisse ainda mais grotesca. Ele era interessante e falava sobre o que faria com seu corpo quando estivessem juntos. Isso a excitou e enfureceu.

Odiava-o enquanto observava sua pele marcada no espelho. Não tinha coragem de olhar para o próprio corpo. No banho, sentia-se desconfortável, uma pressão leve na espinha. Não queria se tocar, ser lembrada do que era, de como era.

Nas poucas vezes em que se masturbava, compunhas pessoas impossíveis e quando sua própria imagem insistia em aparecer, mordia o travesseiro com nojo.

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Porque é preciso mudar a cor



Uma pálpebra
mais uma, mais outras
enfim, dezenas
de pálpebras sobre pálpebras
tentando fazer
das minhas trevas
alguma coisa a mais
que lágrimas



Paulo Leminski

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Este é o meu corpo


Podia desenhar-te o que sou e seria uma folha branca, nua e fina, e tu perceberias. E encontrarias nela o vazio da tua história na minha, a solidão do espaço fechado que abrimos entre nós.




Filipa Melo