Orgulho e Preconceito, filme de 2005 |
Orgulho e Preconceito (Pride and Prejudice) é o livro mais
popular de Jane Austen e Elizabeth Bennet sua personagem mais querida pelos
leitores. Além de inteligente, é perspicaz, dinâmica e, ao
invés de se escandalizar com a pequeneza dos outros, ri dela. Confiante, ela
não se importa em ser diferente e nem em dar voz a suas opiniões. O romance de
Jane Austen narra como Mr. Darcy corteja e conquista Elizabeth. Apesar de sua clara superioridade aos olhos da sociedade é ele quem precisa se
esforçar para se tornar digno do amor da moça.
Mas o que torna a heroína de Orgulho e Preconceito tão
especial? Elizabeth tem
uma mente independente. Em sua recusa à proposta de casamento de Mr. Collins e,
em seguida, a de Mr. Darcy, Elizabeth desafia as regras da sociedade e o
senso comum da época. Mr. Collins poderia evitar o desamparo da família após a morte de
Mr. Bennet e Mr. Darcy é a definição de um bom partido: rico e solteiro. Ao negar as duas propostas de casamento recebidas, ela desafia sua posição social e sua condição de inferior em uma sociedade na qual a mulher só tem valor como esposa. Elizabeth parece não ter problemas em continuar solteira até que encontre alguém que possa realmente aceitar.
A vivacidade intelectual de Elizabeth e sua disposição para
argumentação não deixam de chamar atenção e causar alarme, um dos momentos em que Elizabeth é mais incrível acontece no
final do capítulo oitavo numa conversa entre Mr. Bingley, suas irmãs, Elizabeth
e Mr. Darcy:
Apesar do
grande número das minhas relações, não posso gabar-me de conhecer mais
de meia dúzia de moças realmente prendadas.
— Nem eu — disse Miss Bingley.
— Nesse caso — observou Elizabeth — deve exigir muitas qualidades
para o seu ideal de mulher prendada.
— De fato, exijo muitas qualidades.
— Oh, certamente — exclamou a sua fiel aliada.
— Nenhuma mulher
pode ser realmente considerada completa se não se elevar muito acima da
média. Uma mulher deve conhecer bem a música, deve saber cantar,
desenhar, dançar e falar as línguas modernas, a fim de merecer esse
qualificativo, e além disso, para não o merecer senão pela metade, é preciso
que possua um certo quê na maneira de andar, no tom da voz e no modo de
exprimir-se.
— Sim, deve possuir tudo isso — acrescentou Darcy. — E
acrescentar ainda alguma coisa mais substancial: o desenvolvimento do
espírito pela leitura intensa.
— Já não me espanto de que conheça apenas seis mulheres completas,
espanto-me é de que conheça alguma.
— Julga com tanta severidade o seu sexo, que duvida da possibilidade
de tudo isto?
— Eu nunca vi uma mulher assim. Nunca vi tanta capacidade de
aplicação, gosto e elegância reunidas numa só pessoa.
Elizabeth, ao ouvir as palavras de Mr. Darcy, recusa sua noção
do que uma dama deveria ser, ela não se encolhe ante as opiniões daqueles
socialmente superiores e nem deixa de mostrar seu desdém pelo exagero das
exigências impostas à mulher. Pode parecer bobo hoje em dia, mas é preciso lembrar que Orgulho e Preconceito foi publicado numa época em que mulheres não tinham direitos. Se hoje muitas mulheres sofrem retaliação apenas por falarem o que pensam, imagine a situação dois séculos atrás, por isso esse diálogo aparentemente banal representa um grande desafio à opressão exercida sobre as mulheres.
Os defeitos de Elizabeth a tornam real e acessível, ela é
cínica e às vezes implacável, quando sua amiga
Charlotte Lucas anuncia que se casará com Mr. Collins, Elizabeth fica
estupefata e reflete que nunca verá a amiga com os mesmos olhos novamente. A
heroína também é rápida a julgar, depois que ela forma uma certa opinião sobre
Mr. Darcy, demora a dissuadir-se dela, e por conta disso, por muitas vezes o
trata de maneira rude.
Orgulho e Preconceito, mini série da BBC de 1995 |
A história de amor entre Elizabeth e Darcy só funciona
porque os dois são parecidos, ambos são honestos e tentam corrigir seus erros e
defeitos assim que os percebem. É por isso que Elizabeth só aceita Darcy depois que ele ouve seus motivos para a recusa da primeira proposta de casamento e tenta corrigi-las. Quando isso ocorre, ela revisa sua opinião sobre ele e percebe seu equivoco. Ele prova que não é orgulhoso ao extremo pelo modo como trata
Elizabeth mesmo depois dela o ter rejeitado. E ao invés de se ressentir de sua
independência, a admira por isso.
Os
amantes valorizam coisas diferentes da grande maioria das outras personagens.
Darcy admira a independência de Elizabeth e só passa a considerá-la bonita,
depois de ela ter provado seu valor aos seus olhos. Elizabeth acredita que para
ser feliz é preciso mais que dinheiro e um marido. Ambos procuram afinidade de
espírito e é por isso que podem ser felizes juntos.
O trajeto dos dois na história é muito parecido, mas é Elizabeth
quem ensina Darcy sobre o amor. Em sua primeira proposta ele não tinha dúvidas
da aquiescência dela. Para ele, era inimaginável que ela recusasse a honra de
pertencer a ele. Nesse relacionamento complexo, tanto Elizabeth quanto Darcy
se tornam melhores a partir do momento que assumem seus erros e tentam
corrigi-los, o caminho para os dois ficarem juntos é um de aprendizagem, no
qual ambos precisam repensar suas crenças e avaliar suas falhas. Quando
finalmente conseguem se unir, é porque há uma igualdade de inteligência,
sensibilidade e reconhecimento do valor alheio. Elizabeth sabe que nem todo
casamento é capaz de trazer felicidade e é por isso, que só se entrega a alguém
capaz de a admirar e respeitar tanto quanto merece.
Em Orgulho e Preconceito, Jane Austen faz uma crítica à
obsessão da sociedade de sua época com o casamento, assim como a falta de
opções para mulheres (que só podem ascender socialmente pelo casamento).
Elizabeth nega e desafia esses valores, ela é responsável pela construção de
sua felicidade. A heroína mais adorável de Jane Austen controla o rumo de sua
vida e se esforça para não cair nas armadilhas da vida em sociedade. Elizabeth
encontrou a felicidade no casamento, mas se isso não tivesse acontecido, ela
ficaria bem, pois escolheu ser uma pessoa completa e não somente uma esposa.
Por isso, ela é um exemplo de integridade e força, é claro, sem perder o charme
que a faz tão atraente até os dias de hoje.
Muito lindo!
ResponderExcluirParabéns, Mahana.
Um grande abraço!
Obrigada, E.P. GHERAMER, fico feliz que tenha gostado!
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