domingo, 15 de fevereiro de 2015

Quando crescer quero ser... Elizabeth Bennet


Orgulho e Preconceito, filme de 2005


Orgulho e Preconceito (Pride and Prejudice) é o livro mais popular de Jane Austen e Elizabeth Bennet sua personagem mais querida pelos leitores. Além de inteligente, é perspicaz, dinâmica e, ao invés de se escandalizar com a pequeneza dos outros, ri dela. Confiante, ela não se importa em ser diferente e nem em dar voz a suas opiniões. O romance de Jane Austen narra como Mr. Darcy corteja e conquista Elizabeth. Apesar de sua clara superioridade aos olhos da sociedade é ele quem precisa se esforçar para se tornar digno do amor da moça. 

Mas o que torna a heroína de Orgulho e Preconceito tão especial? Elizabeth tem uma mente independente. Em sua recusa à proposta de casamento de Mr. Collins e, em seguida, a de Mr. Darcy, Elizabeth desafia as regras da sociedade e o senso comum da época. Mr. Collins poderia evitar o desamparo da família após a morte de Mr. Bennet e Mr. Darcy é a definição de um bom partido: rico e solteiro. Ao negar as duas propostas de casamento recebidas, ela desafia sua posição social e sua condição de inferior em uma sociedade na qual a mulher só tem valor como esposa. Elizabeth parece não ter problemas em continuar solteira até que encontre alguém que possa realmente aceitar. 

A vivacidade intelectual de Elizabeth e sua disposição para argumentação não deixam de chamar atenção e causar alarme, um dos momentos em que Elizabeth é mais incrível acontece no final do capítulo oitavo numa conversa entre Mr. Bingley, suas irmãs, Elizabeth e Mr. Darcy: 

Apesar do grande número das minhas relações, não posso gabar-me de conhecer mais de meia dúzia de moças realmente prendadas. 
— Nem eu — disse Miss Bingley. 
— Nesse caso — observou Elizabeth — deve exigir muitas qualidades para o seu ideal de mulher prendada.
— De fato, exijo muitas qualidades.
— Oh, certamente — exclamou a sua fiel aliada.
— Nenhuma mulher pode ser realmente considerada completa se não se elevar muito acima da média. Uma mulher deve conhecer bem a música, deve saber cantar, desenhar, dançar e falar as línguas modernas, a fim de merecer esse qualificativo, e além disso, para não o merecer senão pela metade, é preciso que possua um certo quê na maneira de andar, no tom da voz e no modo de exprimir-se.
— Sim, deve possuir tudo isso — acrescentou Darcy. — E acrescentar ainda alguma coisa mais substancial: o desenvolvimento do espírito pela leitura intensa.
— Já não me espanto de que conheça apenas seis mulheres completas, espanto-me é de que conheça alguma. 
— Julga com tanta severidade o seu sexo, que duvida da possibilidade de tudo isto? 
— Eu nunca vi uma mulher assim. Nunca vi tanta capacidade de aplicação, gosto e elegância reunidas numa só pessoa. 

Elizabeth, ao ouvir as palavras de Mr. Darcy, recusa sua noção do que uma dama deveria ser, ela não se encolhe ante as opiniões daqueles socialmente superiores e nem deixa de mostrar seu desdém pelo exagero das exigências impostas à mulher. Pode parecer bobo hoje em dia, mas é preciso lembrar que Orgulho e Preconceito foi publicado numa época em que mulheres não tinham direitos. Se hoje muitas mulheres sofrem retaliação apenas por falarem o que pensam, imagine a situação dois séculos atrás, por isso esse diálogo aparentemente banal representa um grande desafio à opressão exercida sobre as mulheres. 

Os defeitos de Elizabeth a tornam real e acessível, ela é cínica e às vezes implacável, quando sua amiga Charlotte Lucas anuncia que se casará com Mr. Collins, Elizabeth fica estupefata e reflete que nunca verá a amiga com os mesmos olhos novamente. A heroína também é rápida a julgar, depois que ela forma uma certa opinião sobre Mr. Darcy, demora a dissuadir-se dela, e por conta disso, por muitas vezes o trata de maneira rude. 

Orgulho e Preconceito, mini série da BBC de 1995
A história de amor entre Elizabeth e Darcy só funciona porque os dois são parecidos, ambos são honestos e tentam corrigir seus erros e defeitos assim que os percebem. É por isso que Elizabeth só aceita Darcy depois que ele ouve seus motivos para a recusa da primeira proposta de casamento e tenta corrigi-las. Quando isso ocorre, ela revisa sua opinião sobre ele e percebe seu equivoco. Ele prova que não é orgulhoso ao extremo pelo modo como trata Elizabeth mesmo depois dela o ter rejeitado. E ao invés de se ressentir de sua independência, a admira por isso. 

Os amantes valorizam coisas diferentes da grande maioria das outras personagens. Darcy admira a independência de Elizabeth e só passa a considerá-la bonita, depois de ela ter provado seu valor aos seus olhos. Elizabeth acredita que para ser feliz é preciso mais que dinheiro e um marido. Ambos procuram afinidade de espírito e é por isso que podem ser felizes juntos. 

O trajeto dos dois na história é muito parecido, mas é Elizabeth quem ensina Darcy sobre o amor. Em sua primeira proposta ele não tinha dúvidas da aquiescência dela. Para ele, era inimaginável que ela recusasse a honra de pertencer a ele. Nesse relacionamento complexo, tanto Elizabeth quanto Darcy se tornam melhores a partir do momento que assumem seus erros e tentam corrigi-los, o caminho para os dois ficarem juntos é um de aprendizagem, no qual ambos precisam repensar suas crenças e avaliar suas falhas. Quando finalmente conseguem se unir, é porque há uma igualdade de inteligência, sensibilidade e reconhecimento do valor alheio. Elizabeth sabe que nem todo casamento é capaz de trazer felicidade e é por isso, que só se entrega a alguém capaz de a admirar e respeitar tanto quanto merece.  


Em Orgulho e Preconceito, Jane Austen faz uma crítica à obsessão da sociedade de sua época com o casamento, assim como a falta de opções para mulheres (que só podem ascender socialmente pelo casamento). Elizabeth nega e desafia esses valores, ela é responsável pela construção de sua felicidade. A heroína mais adorável de Jane Austen controla o rumo de sua vida e se esforça para não cair nas armadilhas da vida em sociedade. Elizabeth encontrou a felicidade no casamento, mas se isso não tivesse acontecido, ela ficaria bem, pois escolheu ser uma pessoa completa e não somente uma esposa. Por isso, ela é um exemplo de integridade e força, é claro, sem perder o charme que a faz tão atraente até os dias de hoje.

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