segunda-feira, 21 de junho de 2021

Quando crescer quero ser Jane Villanueva

 


Jane the Virgin é um pastiche das novelas hispanoamericanas. E, como uma boa novela, é uma comédia que tem dramalhão, triângulo amoroso, um pai engraçadíssimo, um grande mistério (a investigação de Michael) e uma vilã que é impossível não amar.

Jane decide se guardar para o casamento por causa da forte religiosidade de sua avó e também porque não quer ser igual à mãe, que a teve com apenas 16 anos e sofreu muito com isso, como acontece com todas as mães adolescentes.

Uma das coisas mais interessantes da série, pelo menos pra mim, é a sororidade das mulheres Villanueva. Elas podem brigar e se desentender, e isso acontece, mas estão sempre lá uma para as outras. Isso é muito importante quando pensamos no movimento feminista e nas reivindicações que, nós, mulheres, sempre temos. Há até uma referência ao teste de Bechdel! Perfeito! Divino! Maravilhoso! Além disso, há uma empreiteira mulher. Que a gente tenha que comemorar isso em pleno 2021 é uma tristesa, mas tem.

Mas chegando na história, no primeiro capítulo, Jane é acidentalmente inseminada artificialmente, então ela se torna uma grávida e, depois, uma mãe virgem. Seu sonho é ser escritora e, apesar das dificuldade de lidar com a maternidade e a busca por uma carreira, ela segue em frente. Aqui a gente volta na sororidade: sem a ajuda da família, ela não conseguiria.

segunda-feira, 14 de junho de 2021

A strange stirring - Stephanie Coontz

 


The Feminine Mystique and American Women at the Dawn of the 1960s 

 

 

Um programa que gosto muito de assistir é o The Daily Show, que aborda os assuntos mais presentes na mídia e expõe a construção de sua retórica e contradições. Nos últimos minutos de cada episódio, John Stewart entrevista um convidado. Foi assim que eu ouvi falar de A Strange Stirring. Stephanie Coontz era a entrevistada do dia e levantou questões muito interessantes, então acabei comprando seu livro, que fala sobre a situação das mulheres na década de 60 e sobre como o lançamento d’A mística feminina de Betty Friedan em 1963 influenciou o movimento feminista.

 

Sempre que se fala sobre o movimento feminista, A Mística Feminina é mencionada como um dos pilares de sua segunda onda. O livro, considerado um dos mais influentes do século XX, causou grande impacto na vida de muitas mulheres e ante seu sucesso, obteve uma oposição tão ferrenha quanto sua defesa. A opressão da década de 50, assim como a falsa construção da feminilidade como sinônimo de satisfação com casamento, maternidade e afazeres domésticos imposta severamente após as mais liberais décadas anteriores, na quais, devido às grandes guerras, mulheres compunham grande parte da força trabalhadora dos Estados Unidos, é especialmente tocante. Logo no início do livro, há alguns trechos de relatos que demonstram as implicações de valores cada vez mais restritivos sendo impostos: 

 

“Os pensamentos que eu tinha eram terríveis. Eu desejava ter outra vida. Eu acordava e começava a limpar e lavar roupas e me sentia miserável. Ninguém parecia entender. Minhas amigas não se sentiam assim. Eu simplesmente supus que eu seria punida de alguma forma. Isso é o que acontece com mulheres que são egoístas. Minhas amigas diziam: você é tão egoísta.” 

 

Mas o livro não é simplesmente uma exaltação de Betty Friedan e de seus méritos. Stephanie Coontz, na verdade, é bastante crítica e nomeia um de seus capítulos de Desmistificando A Mística Feminina, no qual ela lembra que apesar de todo o impacto que teve, o livro foi o resultado da insatisfação crescente e de muitos movimentos e manifestações sociais que possibilitaram sua escrita e no qual ela ressalta que, apesar de toda a veneração que o livro causa até hoje, se seu texto for analisado, ele é bem moderado, pois um dos principais objetivos de sua autora era ajudar mulheres insatisfeitas melhorarem sua vida em família. 

 

Em suma, A Strange Stirring analisa de forma detalhada o momento histórico do lançamento d'A Mística Feminina, seu impacto, seus méritos e suas falhas, além de propor questões sobre a situação atual principalmente no que tange à relação entre carreira, educação e família para a mulher moderna. O livro é ótimo para quem gostaria de conhecer mais sobre a mulher nas décadas de 50 e 60 e o movimento feminista de forma geral. Infelizmente, acredito que esse livro não tenha tradução para o português, mas para quem puder, é uma leitura interessante e enriquecedora.

Para conhecer meus livros, acesse www.mahanacassiavillani.com.br 

segunda-feira, 7 de junho de 2021

Antes de tudo Um teto só meu



Em 1928, Virginia Woolf, já naquela época uma renomada escritora, foi convidada pelas faculdades de Newnham e Girton, faculdades para mulheres integrantes da Universidade de Cambridge, para uma série de palestras entituladas: Women and Fiction (Mulheres e Ficção). Ela resolveu falar sobre feminismo.

A primeira parte da palestra trata da história de uma mulher que, como ela, é convidada para falar sobre Mulheres e Ficção. Virgínia conta o dia e o fluxo de pensamento dessa mulher que pondera sobre o real significado do tema em questão, o qual é vasto e pode significar muitas coisas. Interessante que durante esse dia, os pensamentos da personagem são muitas vezes interrompidos, pois ela está adentrando território masculino, um exemplo é quando tenta entrar em uma biblioteca.

A escritora continua falando sobre muitas coisas relevantes em relação a condição da mulher e sua falta de liberdade e autonomia. Também faz um panorama da história da literatura feminina e demonstra como as mulheres vêm sendo prejudicadas pelo patriarcalismo.

Uma das partes mais interessantes de A room of one's own é quando a autora discorre sobre a pobreza da representação da mulher na literatura. Elas, em sua esmagadora maioria, são mostradas de acordo com suas relações com o sexo masculino, elas são amantes, mães e filhas, mas raridade é encontrar duas mulheres que tem laços de amizades explorados em livros.

Na década de 90, Alison Bechdel, em seu quadrinho Dykes to watch out for, na tira com título The Rule, traz um tópico muito interessante quando uma das personagens explica suas regras para assistir um filme:

1. É necessário haver pelo menos duas mulheres

2. Elas tem que conversar

3. Sobre algo que não seja homens.

A tirinha termina com a personagem dizendo que faz tempo que não assiste nenhum filme.

Em 2021, em sites e fóruns sobre cinema e/ou feminismo, percebo que as pessoas ainda têm uma dificuldade enorme para encontrar filmes, livros, séries e quadrinhos que se encaixem nessas regras. Eles existem, é claro, e em grande quantidade, mas se comparado com aqueles que não se encaixam na regra, seu número ainda é pequeno, e se for analisada a mídia dominante, como blockbusters, novelas, etc, esse número fica ainda menor. O mesmo acontece com a literatura.

Foi por isso que eu, escritora, escolhi esse nome para meu blog. Sou uma mulher vivendo num mundo hostil. Estou cansada de encontrar obras de qualidade que são pouco revisadas, que são pouco estudadas pela academia e que são taxadas de literatura menor simplesmente porque quem as escreveu tem uma vagina. Já passou da hora de mudar essa situação. Sozinha, não posso muito. Mas tudo o que puder, tentarei fazer aqui. Para conhecer meus livros, acesse www.mahanacassiavillani.com.br