segunda-feira, 7 de junho de 2021

Antes de tudo Um teto só meu



Em 1928, Virginia Woolf, já naquela época uma renomada escritora, foi convidada pelas faculdades de Newnham e Girton, faculdades para mulheres integrantes da Universidade de Cambridge, para uma série de palestras entituladas: Women and Fiction (Mulheres e Ficção). Ela resolveu falar sobre feminismo.

A primeira parte da palestra trata da história de uma mulher que, como ela, é convidada para falar sobre Mulheres e Ficção. Virgínia conta o dia e o fluxo de pensamento dessa mulher que pondera sobre o real significado do tema em questão, o qual é vasto e pode significar muitas coisas. Interessante que durante esse dia, os pensamentos da personagem são muitas vezes interrompidos, pois ela está adentrando território masculino, um exemplo é quando tenta entrar em uma biblioteca.

A escritora continua falando sobre muitas coisas relevantes em relação a condição da mulher e sua falta de liberdade e autonomia. Também faz um panorama da história da literatura feminina e demonstra como as mulheres vêm sendo prejudicadas pelo patriarcalismo.

Uma das partes mais interessantes de A room of one's own é quando a autora discorre sobre a pobreza da representação da mulher na literatura. Elas, em sua esmagadora maioria, são mostradas de acordo com suas relações com o sexo masculino, elas são amantes, mães e filhas, mas raridade é encontrar duas mulheres que tem laços de amizades explorados em livros.

Na década de 90, Alison Bechdel, em seu quadrinho Dykes to watch out for, na tira com título The Rule, traz um tópico muito interessante quando uma das personagens explica suas regras para assistir um filme:

1. É necessário haver pelo menos duas mulheres

2. Elas tem que conversar

3. Sobre algo que não seja homens.

A tirinha termina com a personagem dizendo que faz tempo que não assiste nenhum filme.

Em 2021, em sites e fóruns sobre cinema e/ou feminismo, percebo que as pessoas ainda têm uma dificuldade enorme para encontrar filmes, livros, séries e quadrinhos que se encaixem nessas regras. Eles existem, é claro, e em grande quantidade, mas se comparado com aqueles que não se encaixam na regra, seu número ainda é pequeno, e se for analisada a mídia dominante, como blockbusters, novelas, etc, esse número fica ainda menor. O mesmo acontece com a literatura.

Foi por isso que eu, escritora, escolhi esse nome para meu blog. Sou uma mulher vivendo num mundo hostil. Estou cansada de encontrar obras de qualidade que são pouco revisadas, que são pouco estudadas pela academia e que são taxadas de literatura menor simplesmente porque quem as escreveu tem uma vagina. Já passou da hora de mudar essa situação. Sozinha, não posso muito. Mas tudo o que puder, tentarei fazer aqui. Para conhecer meus livros, acesse www.mahanacassiavillani.com.br

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