sábado, 21 de março de 2015

Hoje eu não consegui levantar da cama

Depressão. Dói falar disso. Dói viver nisso. Sinto como se precisasse falar o tempo todo sobre isso. Sinto que preciso escrever, é um transbordamento. Não é como nos filmes, pelo menos não o tempo todo. Eu trabalho, faço coisas, às vezes até saio para me divertir. Também passo finais de semana inteiros sem sair da cama, tenho crises de choro inexplicáveis na frente de qualquer um e chego a ficar o dia todo apenas olhando para a tela do computador sem conseguir fazer meu serviço de tanta ansiedade.

Isso da depressão, ninguém entende direito o que é. Nos raros dias em que estou bem, vejo o quanto poderia estar fazendo. No resto do tempo, sinto uma enorme culpa por não fazer o mais banal. São só alguns pratos, porque é que eu não levanto mais cedo pra lavar a louça? É tão simples, mas toda a minha energia é gasta tentando me convencer a levantar da cama e ir trabalhar, às vezes gasto horas nessa bobagem. O dia ainda nem começou e eu já exausta. A culpa sempre me acompanha. Culpa por não ajudar em casa. Culpa por não trabalhar direito. Culpa por estar sempre triste. Culpa por precisar tanto dos outros. Culpa por não retribuir o que eles me dão.

Sempre penso que não estou doente, que simplesmente sou assim, meio inútil, sempre triste. É comum pensar que todos os remédios e tratamentos que procuro não mudarão nada, que isso é o que sou. Faz mais de dois anos que me disseram que tenho depressão, mas a terapia me ajudou a entender que ela já esteve presente em vários momentos da minha vida, desde muito cedo ela me acompanha.



Muita gente que quer ajudar não entende direito a dimensão das coisas. As pessoas pensam que depressão é igual a tristeza. Não é. Embora a tristeza esteja presente, não é isso que define a depressão, não é só isso. Talvez depressão seja uma tristeza que não vai embora, não importa o que aconteça. Não sei, não consigo entender direito. Ouço muito que preciso sair, fazer coisas de que goste, me distrair. Nem sei como expressar o quanto eu gostaria de fazer todas essas coisas. Às vezes até consigo e me sinto muito grata por isso, mas sentir prazer se torna impossível quando cada palavra, cada movimento me rasgam e me paralisam. 


Não sei por quantos psiquiatras já passei, a maioria foi terrível. Um deles não fazia qualquer tipo de contato visual, o que não era difícil já que a consulta durava pouco mais de três minutos. Ele me receitou, descobri depois, um remédio que causava agitação e piorava meus sintomas de ansiedade. Não foi à toa que tive recaídas naquela época. Uma outra me tratou com muito desdém dizendo que eu não estava tão mal e mesmo assim me receitou um remédio fortíssimo que causa dependência e não ajuda na depressão. Depois de muita procura encontrei um psiquiatra que se importa, que me olha nos olhos, escuta o que eu digo e se empenha em me ajudar. Encontrar um profissional assim fez toda a diferença. Ainda não consegui acertar o remédio, mas saber que meu médico se importa me enche de gratidão, tenho vontade de chorar. A terapia também é muito importante, mas pqp, como incomoda. É basicamente enfiar o dedo na ferida e cutucar bastante até tirar todo o pus. Ainda tem bastante pus e cutucadas pela frente.

Eu vou tentando, tropeçando e caindo a maior parte do tempo. Sempre tentando levantar. Ainda não desisti. Ainda tenho esperança de que um dia não serei totalmente dominada por essa doença. Tenho esperança de que um dia poderei sorrir sem sentir dor. Mas não vai ser hoje. Hoje é um dia que tem alguém com o pé bem no meu peito, pisando com toda força. É um dia que tem algo se revirando aqui dentro, algo que eu não sei como acalmar, foi por isso que não saí da cama. Toda minha energia gasta nesse bicho que não sei direito o que é. E como hoje daqui não vai sair nada de bom, deixo o link de um texto que fez eu me sentir um pouquinho melhor:

Só coisas lindas

Para conhecer meus livros, acesse www.mahanacassiavillani.com.br


2 comentários:

  1. Adorei o texto Ma, assunto difícil mas tratado de uma forma leve, e bem didática. Parabéns!

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    1. Obrigada, Renata! Se ajudar alguém passando pelo mesma coisa, ficarei feliz

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