Olhava a terra se movendo sob seus pés. O chão parecia seco, mas no movimento surgia a umidade. Folhas, sujeira, pedras, pedaços de pão. Não gostava de pureza, terra presa em vaso.
Seu entre-dedos sorria de cócegas e mexia cada vez mais, as unhas ficando pretas, os pés ganhando cor. A sensação era de muitas coisas em uma só. Uma vida secreta escondida debaixo de uma toalha. Sobre a mesa, um piquenique. Ao redor, crianças perseguindo galinhas e seus filhotes.
Apenas um parque – árvores, gentes e bichos.
Via raízes invadindo o concreto e se espalhando pelo mundo. Imagem comum, sedutora demais para mentes cansadas.
Respirava, diferente – deixar-se ser. A realidade era uma grande caixa cinza após longos caminhos cinzas. Uma vida de pó.
Gostava de observar os animais. Sabia que a natureza não é cintilante. Via com certa dor a crueza da vida.
Mas era vida.
Buscava o mesmo em sua humanidade – uma leitura clara.
Gostava de olhar: a natureza não estava lá e ela estava, cansada.
Decidia. Fincar os pés, não mais apenas provocar.
Seria alguém que também é terra.
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