Com 52 anos, Sérgio era normal. Baixinho, gordinho, careca. Não, careca não. Mantinha com orgulho alguns fios como uma coroa de louros guardando uma mente campeã. Agarrava-se aos pequenos e finos lembretes de uma juventude perdida com garras de quem não desiste da batalha até que esteja prostrado ao chão esvaindo-se em sangue.
Ele que valorizava acima de tudo os cada vez mais esparsos fios não entendia esses moços passando gel nos cabelos, deixando-os espetados, duros, esquisitos. Não entendia muitas coisas, jovens usando brincos, anéis, pulseiras. Que absurdo! Alegrava-se por só ter filhas, três. Fazia de tudo para educar bem suas meninas e sempre se viu próspero, satisfeito, orgulhoso até que não mais.
A mais nova namorava um rapaz com cabelos que chegavam até a cintura, de um loiro brilhante, todo ondulado. Quando vira Érica beijando o moço em frente à garagem, quase tivera seu terceiro infarto. Também, ao presenciar sua filha com outra garota, quem resistiria? Naquele momento sentiu como se nada mais fizesse sentido. Não fazia mesmo. Namorar um homem, “homem”, com cabelo na cintura não era muito melhor e o rapaz ainda dizia que não gostava de trabalhar. Um vagabundo, achava que era artista. Vagabundo, isso sim! Érica tinha 19, Igor, 17 e ela passava todos os fins de semana na casa dele, dormindo no mesmo quarto. Onde já se viu? Uma moça dormindo no mesmo quarto que o namorado. Imagina o que a família dele pensava dela, Érica, e o que pensava dele, Sérgio. Com certeza viam-no como um pai relapso. Ele não sabia o que fazer, tentava conversar com a garota, mas ela somente o encarava com desdém, isso quando não decidia ignorá-lo e deixa-lo falando sozinho.