segunda-feira, 27 de abril de 2015

Lado B



Conto publicado na 12ª edição da Revista Flaubert


Passava pelo corredor escuro a caminho da sala 128. O calor não combina com as nuvens lá fora. A minha frente, encostados às paredes, alguns PMs e oito crianças algemadas. Os infratores estão virados para o concreto cinza, mas sinto os olhos dos policiais com suas armas em mim. Odeio passar aqui nessa hora. Na sala de testemunhas, mães e namoradas choram ou conversam distraidamente. 

terça-feira, 21 de abril de 2015

A pretendente número 2




Bruno é um bom partido. Acredita em igualdade, fraternidade e liberdade. É a favor de ciclo faixas e condena as declarações de Jair Bolsonaro. Vota mais à esquerda. É abertamente contra a corrupção, o racismo, a homofobia e a misoginia. Quando descobrir a gordofobia, também será abertamente contra ela. 

Trabalha todos os dias, de segunda a sexta, e sente o peso do sistema que massacra o homem moderno obrigando-o a viver alienado numa sociedade que só valoriza quem é uma perfeita engrenagem. Ser bom não é bom o suficiente, pensa de si para si. Depois do almoço com duração de duas horas lê os títulos das matérias dos grandes portais de notícias e fica ainda mais revoltado com esse mundo que tanto o explora.

Uma vez leu O Banqueiro Anarquista até o fim. Adorou tudo e ficou imaginando o dia em que poderia ser livre daquela forma. Escapou-lhe a ironia. Ela é fundamental, mas nem todos os cérebros produzem a substância capaz de torná-la visível. A medicina ainda não achou a cura. 

Bruno possui três pretendentes. 

O BANQUEIRO ANARQUISTA




Tínhamos acabado de jantar. Defronte de mim o meu amigo, o banqueiro, grande comerciante e açambarcador notável, fumava como quem não pensa. A conversa, que fora amortecendo, jazia morta entre nós. Procurei reanimá-la, ao acaso, servindo-me de uma ideia que me passou pela meditação. Voltei-me para ele, sorrindo.

— É verdade: disseram-me há dias que você em tempos foi anarquista...

— Fui, não: fui e sou. Não mudei a esse respeito. Sou anarquista.

— Essa é boa! Você anarquista! Em que é que você é anarquista?... Só se você dá à palavra qualquer sentido diferente...

— Do vulgar? Não; não dou. Emprego a palavra no sentido vulgar.

— Quer você dizer, então, que é anarquista exatamente no mesmo sentido em que são anarquistas esses tipos das organizações operárias? Então entre você e esses tipos da bomba e dos sindicatos não há diferença nenhuma?

— Diferença, diferença, há... Evidentemente que há diferença. Mas não é a que você julga. Você duvida talvez que as minhas teorias sociais sejam iguais às deles?...

— Ah, já percebo! V., quanto às teorias, é anarquista; quanto à prática...

— Quanto à prática sou tão anarquista como quanto às teorias. E quanto à prática sou mais, sou muito mais, anarquista que esses tipos que você citou. Toda a minha vida o mostra.

— Hein?!

— Toda a minha vida o mostra, filho. Você é que nunca deu a estas coisas uma atenção lúcida. Por isso lhe parece que estou dizendo uma asneira, ou então estou brincando consigo.

— Ó homem, eu não percebo nada!... A não ser..., a não ser que você julgue a sua vida dissolvente e anti-social e dê esse sentido ao anarquismo...

sábado, 4 de abril de 2015

Músicas que empoderam - Don't rain on my parade!





A versão de Funny Girl com a Barbra Streisand é simplesmente incrível, mas também gosto muito da versão de Lea Michele como Rachel Berry em Glee. Só vou dizer uma coisa: Não me diga pra não viver ;)

DON'T RAIN ON MY PARADE

Don't tell me not to live
Just sit and putter
Life's candy
And the sun's a ball of butter
Don't bring around a cloud
To rain on my parade

Don't tell me not to fly
I simply got to
If someone takes a spill
It's me and not you
Who told you
You're allowed to rain on my parade

I'll march my band out
I'll beat my drum
And if I'm fanned out
Your turn at bat, sir
At least I didn't fake it
Hat, sir
I guess I didn't make it

But whether I'm the rose
Of sheer perfection
A freckle on the nose
Of life's complexion
The cinder or the shiny apple of its eye

I gotta fly once
I gotta try once
Only can die once, right, sir
Oh, life is juicy, juicy and you see
I gotta have my bite, sir

Get ready for me, love
Cause I'm a "comer"
I simply gotta march
My heart's a drummer
Don't bring around a cloud
To rain on my parade

I'm gonna live and live now
Get what I want, I know how
One roll for the whole shebang
One throw that bell will go clang!
Eye on the target and wham!
One shot, one gun shot and bam!
Hey Mister Arnstein, here I am!

I'll march my band out
I'll beat my drum
And if I'm fanned out
Your turn at bat, sir
At least I didn't fake it
Hat, sir.
I guess I didn't make it

Get ready for me, love
Cause I'm a "comer"
I simply gotta march
My heart's a drummer
Nobody. No, nobody
Is gonna rain on my parade