quinta-feira, 27 de maio de 2021

A pior crise de bipolaridade que já tive

     


    Tudo começou devagar. Era maio de 2020, mas não teve a ver com a pandemia. Minha avó, que agora já partiu, tinha Parkinson, e nos últimos anos de vida, entrava e saía de hospitais frequentemente. Ela estava internada, e eu tinha medo de ficar sozinha em casa enquanto minha mãe ficava com ela. Primeiro sinal. 

    Comecei a ficar na casa da minha irmã enquanto minha mãe estava no hospital. Mas eu não conseguia ficar sentada. Ficava deitada olhando para o computador esperando aparecer trabalho. 

    Minha avó voltou para casa, mas eu continuei ficando deitada, me sentindo cada vez pior. 

    Então chegou o dia. Estava numa reunião de trabalho ouvindo as pessoas e nada daquilo fazia sentido para mim. Eu senti uma vontade enorme de cortar os pulsos. Tudo na minha mente me dizia que era isso que precisava fazer. Fui até a cozinha e peguei uma faca grande e afiada. Logo que comecei a enfiá-la na carne, minha mãe chegou bem quando eu estava começando, então ficou só um arranhão. Ela escondeu todas as facas.

    Depois, eu comecei a ter uma ideia fixa. Queria furar os olhos. Ela teve que esconder todas as coisas pontiagudas: pinça, cortador de unha, tesoura e até uns palitos aromáticos que eu quebrei e tentei enfiar nos olhos.

    Falava com meu psiquiatra toda semana e toda semana ele mudava o remédio. Acho que nada profissional. Até que chegou o dia em que recebi uma mensagem da secretária dele dizendo que ele havia parado de atender por tempo indeterminado. Era mentira. Conhecia uma menina que passava com ele e ela continuou indo nas consultas normalmente.

    Foi aí que caí de vez. Passava com ele há uns 6 anos. E quem tem esse tipo de problema sabe que a relação com o psiquiatra tem que ser de total confiança.

    Eu ficava deitada no sofá de pijama o dia inteiro, com uma almofada apertada contra o peito para tentar segurar a angústia.

    A empresa em que eu trabalhava e, principalmente, meu chefe, foram muito humanos. Aceitaram vários atestados sem me colocar na caixa.

    Uma amiga recomendou um psiquiatra para mim e foram uns sete meses até acertar o remédio. Sete meses chorando, sem conseguir tomar banho, com uma angústia sem fim. Eu queria morrer, mas não tinha forças nem para tentar me matar.

    Mas, enfim, melhorei. Não quero nunca mais passar por isso, mas sei que é uma possibilidade.

    Acredito, porque preciso acreditar, que a bipolaridade me deu um presente: o dom da escrita.

    Bipolares com frequência têm tendências artísticas. 

    Mas, nunca, nunca romantize essa situação. Disturbios mentais são um assunto sério.


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