Aninha é uma garota esperta. Mais ou menos. Fez faculdade e tem um emprego sem graça. É engajada com a questão do meio ambiente e adora programas culturais. Ainda contribui com o jornal da universidade. De modo geral, não é má pessoa.
Quando recebeu um e-mail muito elogioso sobre sua produção literária, seu ego, naturalmente do tamanho de uma maçã, inflou-se até parecer uma jaca. Respondeu cheia de palavras bonitas e tratou logo de adicionar Bruno no facebook.
Os próximos fatos se deram na seguinte ordem: descobriu que ele era solteiro, passou a achar que ele era bonito, achou suas fotos divertidas, passou a achar seus posts engraçados, passou a achar seus poemas bons. Ficou a fim.
Aninha se esqueceu de que o facebook é uma vitrine de nada e que e-mails escondem as entrelinhas. Coitada, era esperta, mas não tinha bola de cristal. Como poderia saber que as opiniões que tanto a atraíam em seu pretendente eram todas roubadas? Como saber que aquele homem que curtia páginas como Frieda explica, se precisar repete passara seus 27 anos de vida com as costas curvadas, compenetrado nas peculiaridades do próprio umbigo, sendo que agora, nem que quisesse, e não queria, seria capaz de levantar os olhos e apreender a existência de outro ser humano? Nem mesmo o amor seria capaz de endireitar as costas daquele homem porque esse sentimento ele só tinha e só queria ter pelo próprio umbigo.