terça-feira, 9 de junho de 2015

Com sentimento




Não tinha superstições muitas. Sempre se considerara uma pessoa lúcida. Certa tarde por um descuido sob a água corrente, sua aliança se foi pelo ralo. Pouco se importou, feito de latão, aquele objeto era apenas mais uma tentativa fracassada de ser bem sucedido na arte da pegação. No escritório notava como as mulheres sempre corriam atrás dos casados, principalmente Daniel. O que é que tanto viam naquele cara sem graça? Ele não era forte, não era rico, não era nada. Mesmo assim a mulherada caía matando. Malaquias não entendia. A verdade é que quem carrega uma mala no nome não pode ter um bom destino.

O famigerado Malaquias não aguentava mais ficar sozinho. Não que quisesse uma companheira, queria uma apenas uma cavidade aquecida que não custasse tanto. Nas semanas seguintes à do pagamento passava seu tempo entre sites sobre carros, esportes, aqueles restritos a maiores de 18 anos e finalmente, a cereja do bolo, sites de sedução, nos quais procurava aprender como se tornar um macho alfa.

Destituído de sexo, pobre Malaquias não parava de ler artigos sobre como atrair mulheres. Infelizmente, suas leituras resultavam infrutíferas, já que os argumentos sobre leis da atração e psicologia feminina eram no mínimo inverídicos e a lógica de seus autores, inexistente.


Em baladas, bares, confraternizações de fim de ano e afins, Malaquias comumente implorava para que alguma mulher lhe desse atenção. Era comum que a frase: Por favor, me dá uma chance - saísse da boca daquele homem juntamente com o cheiro de cerveja e salaminho, sua refeição favorita. Entre os que se beneficiavam de sua convivência, recebia o carinhoso apelido de Mala que, apesar de nada criativo, era inevitável dada a personalidade carregada junto ao nome. Ao final dessas noites de alegria, Malaquias invariavelmente buscava o serviço de profissionais do sexo para apaziguar suas frustrações e sentimentos de inferioridade. Não raro, para a alegria das moças esforçadas, adormecia antes que elas precisassem cair de boca no serviço.

Desaliançado, Malaquias resolveu se cadastrar num desses sites de relacionamento. Preocupado com sua imagem, escolheu uma foto em que estava sem camisa e segurava uma lata de cerveja. Infelizmente, o pobre rapaz não percebeu que como pano de fundo da imagem de seu torso nu, destacava-se uma samba-canção de patinhos, presente de sua querida avó.

Passaram-se três semanas preenchidas com bobagens românticas, declarações de amor ao ato de dormir de conchinha, pesquisa sobre filmes e livros estúpidos de que as mulheres gostam e nada. Malaquias não compreendia, tanto esforço para agradar, tanta energia e dinheiros gastos, tudo infrutífero. Cada vez mais aumentava sua certeza de que mulher gosta mesmo é de cafajeste. Apenas uma conclusão lógica, já que era tão gentil, tão solícito, tão presente e mesmo assim não conseguia pegar ninguém. A solução seria esnobar e pisar em suas presas, algo impossível enquanto as mulheres insistissem em evita-lo. Malaquias não sabia mais o que fazer.

A ponto de terminar sua nova descrição no cadastro do site com a bela frase: Se você for legal o suficiente eu posso te lamber toda, foi surpreendido com um som inesperado, recebera uma mensage
m.

Oi, td bem?

Ótimo agora e vc gata

Tudo bem, também. Vai fazer alguma coisa agora?

Malaquias não se continha. Extremamente excitado, pensava na resposta que garantiria o sucesso.

Não tenho planos linda e vc

Quer sair?

Claro, é so o tempo deu tomar banho que horas vc pode

2:30h? No estacionamento do supermercado que fica na Rua Conceição...

Blz é só o tempo deu tomar banho consigo chegar 215 vc vai msm não vai mim dar bolo né

Ok, pode ser 2:15. Vc tem camisinha?

Tenho vou tomar banho vc vai msm gata

Espera, como faremos para nos encontrar? Me passa a placa do seu carro.

Pq minha placa? To ficando preocupado. Meu carro é Gol Cinza, 2 portas, tá bom só

A placa é mais fácil de achar, eu não entendo muito de carro.

Olha lá hein minha placa *** ****

Okay, até mais tarde

Malaquias tomou banho apressadamente, passou muita loção pós-barba e colocou a melhor samba-canção que possuía. Só no carro se lembrou de que não tinha visto as fotos da mulher.E se ela fosse uma baranga? Como precisava de sexo e estava sem dinheiro, relutantemente aceitou que não diria não, por mais mocréia que ela fosse. 

Quando chegou ao estacionamento, ela já estava lá. A mulher desceu do carro e ele a olhou de cima a baixo sem o menor pudor. Era meio gorda, mas dava pra comer, ia gostar de meter naquela bundona gigantesca. Teve uma ereção.

Malaquias precisou abastecer ou não chegaria ao motel. Durante o trajeto, falou sobre seu trabalho e perguntou sobre o dela. Falou ainda sobre uma experiência traumática com uma garota que tentou convencê-lo de que estava grávida. Impossível, eles haviam usado camisinha. A mulher era meio calada. Gostou dela.

No motel, teve que pedir para que ela tirasse o sutiã após algumas tentativas malsucedidas. Queria parecer desinteressado. Não conseguiu e logo perguntou se poderiam sair novamente. Ela disse que sim, por isso Malaquias resolveu se esforçar para agradá-la. Deu tapas vigorosos nos seios dela e os chupou até que ficassem roxos, mordiscando e puxando seus mamilos com os dentes. Conseguiu penetrá-la por quatro minutos e sentiu-se vitorioso. Espera só eu me recuperar que a gente continua. Falou longamente sobre sua vida, seus planos, sua decepção com aqueles que se diziam seus amigos. Ela estava por cima. Ele estava feliz. Gozou quando ela ainda usava apenas a mão. Não se importou, aquela mulher era tão doce, ela também não se incomodaria. 
Notou que ela ficou calada, parecia triste. Tentou diverti-la, acariciou seus cabelos. Ela pediu para ir embora. As mulheres são todas iguais. A não ser que... Quando ela ia abrir a porta, ele a agarrou por trás e pressionou seus seios com força. Vamos ficar mais um pouco. Jogou-a na cama, tirou seu vestido, segurou seus pulsos e se esforçou para ir o mais fundo possível. Sentia-se um rei. Era isso que você queria? É disso que você gosta? Fala pra mim. Excitado como estava, Malaquias acabou se movimentando demasiadamente o que fez com que seu pênis escapasse. Antes de reposicioná-lo, viu sangue. Muito sangue. Você está sangrando. Ela olhou. Nenhuma reação. Ele correu ao banheiro para se limpar. Voltou ao quarto, viu uma poça no lençol e outra no chão. Ela andava em direção ao banheiro o sangue escorria marcando suas pegadas. 

Você quer ir, né? Deixa eu só me trocar. Que pena, justo na melhor. Ela não disse nada. Não olhou para ele. Posso te pedir uma coisa? Só por precaução, vamos passar na farmácia. Ela não respondeu. Malaquias entrou com ela, mas não pagou pela pílula. Quando ela a engoliu, abriu a boca para que ele se certificasse que tudo estava bem. 

No dia seguinte, ansioso, mandou uma mensagem. Sem resposta. Perguntou se ela estava chateada. Silêncio. Implorou para que ela dissesse algo. Nada. Foda-se, que ela não me venha dizer que está grávida. As mulheres são todas assim, não se pode ser atencioso com elas. Nenhuma presta.

Não havia outra opção. Naquela noite, Malaquias procurou uma mulher de verdade. Jhamilly era uma nordestina apertadinha cheia de amor para dar. E o melhor, cobrava apenas 30 reais.

2 comentários:

  1. Como você escreve bem. Você arrasa, é uma escritora de primeira linha, uma das minhas preferidas, sem exagero.

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