segunda-feira, 5 de julho de 2021

Tempos líquidos - Zygmunt Bauman (Parte 1)

 



Bauman inicia a obra Tempos líquidos (2007), Bauman (2007, p. 7) dizendo que “passamos da fase “sólida” da modernidade para a “líquida””. Para o autor, isso significa que antes possuíamos estruturas que limitavam as escolhas individuais e instituições que asseguravam a repetição de rotinas, mas que elas não podem mais manter sua forma por muito tempo, pois se dissolvem muito rapidamente.

Ele também fala sobre a perda de poder do Estado moderno para um mundo globalizado. Isso aconteceria porque aquele é local e este é planetário. Diz ainda que as funções dos Estados passam agora para o mercado, que controla a vida dos indivíduos e, notadamente, expõe as pessoas aos seus caprichos, promove a competitividade e diminui a colaboração.

Bauman cunha o termo “globalização negativa” e diz (BAUMAN, 2007, p. 13):

(...) uma globalização seletiva do comércio e do capital, da vigilância e da informação, da violência e das armas, do crime e do terrorismo; todo unânimes em seu desdém pelo princípio da soberania territorial e em sua falta de respeito a qualquer fronteira entre Estados. Uma sociedade “aberta” é uma sociedade exposta aos golpes do “destino”.

           

Ele também enfatiza a função do medo nessa nova sociedade, que se espalharia quase que organicamente e sem freios. Isso aconteceria porque a vida humana se tornou instável: empregos, parceiros, redes de amizades. Para ele, a ideia de progresso, em vez de ser positiva, causa o medo de ser deixado para trás, o que, por sua vez, causa uma angústia existencial. Esse medo não vem à toa. Ele é muito lucrativo, tanto comercial, quanto politicamente. Bauman afirma que a ideia de segurança pessoal se tornou a bandeira da política. O medo vem também do “desmantelamento das defesas construídas e mantidas pelo Estado contra os temores existenciais.” (2007, p. 20). Para ele, vivemos um “cada um por si e Deus por todos”. Bauman ainda explica que o enfoque no medo individual vem associado à precarização do chamado Estado de bem-estar social. Para se aprofundar na questão do medo, ele cita a chamada “guerra ao terror”, que, como exemplifica, em vez de gerar mais segurança, fez aumentar o número de armas leves presentes na sociedade. Tudo isso causa uma falta de solidariedade coletiva e aumenta o individualismo. Bauman afirma (2007, p. 21):


O medo é reconhecidamente o mais sinistro dos demônios que se aninham nas sociedades abertas de nossa época. Mas é a insegurança do presente e a incerteza do futuro que produzem e alimentam o medo mais apavorante e menos tolerável. Essa insegura e essa incerteza, por sua vez, nascem de um sentimento de impotência: seja individual, separada ou coletivamente (...)

 

            Depois disso, Bauman passa a falar sobre a questão dos refugiados no mundo capitalista. O autor afirma que um de seus resultados mais fatais é o “lixo humano”, “milhões de homens e mulheres privados de suas terras, locais de trabalho e redes comunais de proteção.”. (2007, p. 34). Ele diz ainda que o capitalismo não consegue reassimilar ou eliminar esse lixo humano. Para Bauman a situação fica mais complicada quando o “lixo” está ao lado dos “normais”.  Isso porque aqueles lembram a estes que podem facilmente, um dia, estar nessa posição. Ao falar sobre as guerras, que estariam desregulamentadas como efeito da globalização, o autor (2007, p. 43) afirma sobre os fugitivos:

(...) são, além de tudo, privados do apoio de uma autoridade de Estado reconhecida que possa colocá-los sob sua proteção, fazer valer seus direitos e interceder em seu favor junto a potências estrangeiras. Os refugiados são pessoas sem Estado (...)

           

Para Bauman, depois que uma pessoa se torna refugiada, ela o será para sempre. Ele (2007, p. 45) cita como exemplo:

Há, por exemplo, cerca de 900 mil refugiados dos massacres intertribais e dos campos de batalha das guerras selvagens travadas há décadas na Etiópia e na Eritreia, espalhados pela região Norte do Sudão (incluindo a mal-afamada Darfur), por si mesmo uma nação empobrecida e devastada pela guerra, além de apinhada de outros refugiados que relembram com horror os campos de extermínio do sul do país.

           

            Também exemplifica que, no campo de Kassala, a água foi cortada e os habitantes removidos à força, como ocorreu quando se tornaram refugiados, o que impossibilita qualquer possibilidade de retorno. Bauman também argumenta que as agências humanitárias acabam por desempenhar o papel de “faxineiros étnicos” e de agentes de exclusão, pois mantêm os refugiados “protegidos”, acalmando o público expectador. Mas a realidade é que os refugiados são “lixo humano”, não têm chances de integração no corpo social. Prova disso é que:

Os estadistas da “União Europeia” empregam a maior parte do seu tempo e inteligência planejando formas cada vez mais sofisticadas de fortificar as fronteiras e procedimentos mais eficazes para se livrarem das pessoas que, apesar de tudo, conseguiram atravessá-las e estão em busca de pão e abrigo. (BAUMAN, 2007, p. 48)

 

            Para Bauman, os refugiados perdem seu lugar, pois são expulsos de seus locais de origem, mas têm sua entrada em qualquer outro proibida. O autor ainda reflete que esse é um problema da impossibilidade de resolver localmente uma questão que é global. Mas os países do Norte global procuram se proteger com alternativas internas, como fortificações, cercas e câmeras de circuito fechado. Só que isso não é eficiente, pois a questão da inclusão e da exclusão já estão presentes em todo o globo, com “lixo humano” sendo produzido por toda parte.

            A parte dois está aqui.

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