Nunca gostei de autoajuda. Os livros são simplistas, reducionistas, vários outros istas e servem para emburrecer. Geralmente, só os títulos me deixam com nojo, raiva ou preguiça. Para mim, eles são, de forma geral, uma maneira muito baixa de extrair dinheiro do sofrimento alheio. Os voltados para mulheres costumam ser cheios de machismo. Basicamente ensinam como ser magra e casar. Pq, né? Está no nosso DNA. O Tico quer que a gente case. O Teco quer que a gente seja magra.
Minha lista de coisas que funcionam melhor que autoajuda incluem terapia (óbvio), literatura, filmes, música, álcool, vídeos de gatos e chorar no banheiro. Até isso. E nada. Muitas vezes nada é infinitamente melhor que autoajuda.
Mas livros de autoajuda vendem muito. Muito, muito, muito. Não é um indicativo de qualidade, mostra apenas que tá todo mundo fudido e procurando uma solução mágica.
Quando acontece algo muito doloroso emocionalmente e dizemos a nós mesmos que falhamos, estamos na verdade dizendo que temos controle sobre isso: se nos modificarmos, o sofrimento cessará... Culpando-nos, prendemo-nos à esperança de que seremos capazes de descobrir onde está o erro e corrigi-lo, controlando, dessa forma, a situação e fazendo o sofrimento cessar.
Uma vez me disseram que quando temos uma dor muito grande, fazemos qualquer coisa, qualquer coisa mesmo para que ela vá embora. Deve ser verdade. Eu mesma já gastei muito e já fiz muita bobagem na minha tentativa de diminuir meu desespero.
Minha grande dor era, e continua sendo, a depressão e todas as suas causas. A maioria delas não funcionou, algumas coisas chegaram até a atrapalhar, mas, por enfim ter encontrado ajuda, valeu a pena.
Uma dessas coisas que fiz foi ler livros de autoajuda. Mesmo achando que eles não serviam para nada, ou pior, que faziam um desserviço, mesmo me achando ridícula. Li.
A maioria foi tudo aquilo que eu pensava mesmo e me frustrou bastante. Um deles foi diferente e serviu, pelo menos para mim.
Nas livrarias, Mulheres que Amam Demais, da Robin Norwood, aparece classificado como psicologia e/ou autoajuda. Talvez seja um pouco dos dois.
Devorei tudo em dois dias e, no meu desespero, grifei 70% das frases. Me identifiquei com muitas informações ali. Percebi comportamentos similares em pessoas a meu redor.
Tenho muitas críticas ao livro. A heteronormatividade e o machismo que encontrei algumas vezes incomodaram bastante, mas, de forma geral, ele ajudou mais do que atrapalhou.
Ao redor do mundo foram criados grupos de apoio para essa condição chamada amar demais. É um nome horrível. Não tem nada de nada a ver com amor, tem a ver com abuso e autosabotagem. A autora se concentra em relacionamentos homem-mulher (heteronormatividade), mas dá pra transpor as ideias para diversos cenários.
O título é bastante sensacionalista, mas o livro em si não é assim.
Ele basicamente fala sobre pessoas que buscam relacionamentos destrutivos, reproduzindo situações também destrutivas na tentativa de corrigi-las, de consertar o passado. Quem não conhece essa história?
Agora que não estou mais tão vulnerável e que estou tentando dizer um grande foda-se para todas as coisas ruins do meu passado, (antigo e recente), chega até a parecer meio bobo. Quando a gente entende, tudo fica meio óbvio e é inevitável o sentimento de: mano, qual era o meu problema? Mas, quando a gente tá afundada na merda, merda é tudo o que dá pra enxergar.
Foi difícil, mas agora posso quase rir de todas aquelas coisas.
O grande problema é que relacionamentos abusivos são tão banais, tão comuns, que não só as pessoas os vivendo, mas aquelas à sua volta, enxergam tudo como normal.
É fácil condenar um marido que espanca a mulher ou os filhos. É fácil identificar o erro. É fácil condenar a mulher que não tem coragem de denunciar, que volta para os braços do abusador. Difícil mesmo é sair de uma situação em que acreditamos merecer estar. Mesmo que inconscientemente.
Difícil é perceber os relacionamentos abusivos na sutileza. Dica: não é nada sutil, é que a gente vive numa sociedade tão perturbada e fica tão dependente que começa a achar tudo normal.
Quando nossas experiências na infância são bastante dolorosas, somos
frequentemente compelidos a recriar situações parecidas em nossa vida, com o
intuito de conseguirmos domínio sobre elas
O número de pessoas que vive ou já viveu esse tipo de situação é absurdamente alto. É um problema grave e parece que ninguém liga muito. Por isso, tudo o que ajudar a sair disso, tá valendo. Mesmo que seja autoajuda.
O livro fez tanto sucesso que foram criados vários grupos de apoio, nos quais mulheres podem compartilhar experiências e entender que não estão sozinhas. O endereço para o grupo de São Paulo é: